terça-feira, maio 04, 2010

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO AMBIENTE NA RIA FORMOSA ATRAVÉS DO ÍNDICE STI OBTIDO NUMA AMOSTRA DE OSTRAS (Crassostrea angulata)

INTRODUÇÃO
O Homem tem, desde sempre, eleito a zona costeira como local de fixação ou de passagem não só pela riqueza de recursos naturais, que a caracteriza, mas também por lhe proporcionar, por um lado, oportunidades de ligação com o mundo e, por outro, em muitas regiões, pela amenidade do clima.
Contudo, o desenvolvimento industrial e o fabrico de compostos químicos sintéticos têm provocado graves e diversos problemas nos ecossistemas. Estes compostos, ao entrarem nos ecossistemas (aquáticos e terrestres), acumulam-se nos organismos (animais e vegetais) alterando-lhes o funcionamento hormonal o que, em casos extremos, tem levado ao desaparecimento de numerosas espécies indígenas.
O presente trabalho foi realizado no âmbito do desafio “Ostras e Poluição: que ligação?”. Tem como objectivos: a) conhecer as características internas e externas das ostras; b) identificar, as diferenças de espessamento da concha; c) determinar o índice biológico STI e o nível de qualidade da zona em estudo.
Ao contrário do que grande parte das pessoas deve pensar sobre as ostras, elas fornecem-nos várias características muito importantes (tais como: volume, peso, tamanho, largura, espessura, coloração do miolo, contraste de coloração entre o bordo do manto e a sua restante superfície, a forma do bordo do manto) que nos podem sugerir o nível de poluição da zona em análise. Ou seja, as ostras são um importante indicador biológico tendo em conta que o desenvolvimento deste organismo reflecte as condições do ambiente onde se insere.
A investigação foi realizada com uma amostra de 31 ostras (Crassostrea angulata) provenientes da Ria Formosa. De referir que recolha das amostras foi realizada com o apoio de um pescador da região.

MATERIAL E PROCEDIMENTOS
O trabalho realizado baseou-se no protocolo fornecidos pela Agência Ciência Viva1, através do desafio “Ostras e poluição: Que ligação?”.
Para completar os dados fornecidos assim como a análise e interpretação dos resultados, procedemos uma revisão bibliográfica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As ostras estão constantemente em contacto com o meio aquático acabando por isso por reflectir o estado de qualidade do local.
A partir da determinação do índice biológico STI, é possível aferir o estado de qualidade da água, neste caso da Ria Formosa. Pela análise da tabela I em anexo, é possível verificar que:
a) O valor médio do índice STI das ostras estudadas é 10.2 e o desvio padrão é de 4.4. Apenas uma amostra apresenta um valor menor que 1 e o valor mais alto (STI) das amostras é de 18.5, de uma forma geral as ostras apresentam valor entre os 7 e o 8.
Verificamos também que a maioria das ostras tem uma concha pouco espessada. Na presença de compostos como o TBT verificar-se-ia uma tendência para as ostras formarem uma forma esférica, o que espessava a sua concha3. Assim, de acordo com a tabela de qualidade para este índice, os dados obtidos sugerem um baixo nível de poluição. A apoiar estes dados, Agripino3 num estudo realizado em ostras verificou que as amostras estudadas da Ria Formosa eram caracterizadas por possuírem uma concha pouco espessada.
b) Relativamente ao contraste do miolo na maioria das amostras observadas a coloração é normal. Apenas 13 ostras em 31 tem o miolo demasiado escuro, e apenas uma tem o miolo demasiado claro tendo em conta a coloração das restantes.
Os bordos do manto são, na sua maioria, bem visíveis. Os dados levam-nos a supor que a maioria das ostras estudadas encontra-se saudável.
Os dados obtidos neste estudo sugerem então que as ostras da Ria Formosa estão saudáveis, e que a água do local tem um baixo nível de contaminação.
Num artigo disponível on line2, é referido que a implantação de estaleiros navais no Tejo e no Sado estiveram associados ao uso e abuso de tintas «antifouling» nos cascos dos navios que continham TBT, um composto altamente nocivo para a vida marinha, o que aniquilou completamente as colónias de moluscos existentes nos dois rios, nomeadamente as ostras. Assim se desintegraram comunidades que durante várias gerações haviam subsistido naquelas zonas. Os autores deferem que esta situação não se verificou nos estuários de alguns rios como o Mira e lagunas costeiras como a Ria Formosa2.
Nicolas Lémery2, reputado farmacêutico e químico do século XVIII dizia no seu «Traité des alimens»: As ostras excitam o sono; elas abrem o apetite; elas provocam os ardores de Vénus. Com este trabalho aprendemos que podemos acrescentar mais uma característica: as ostras são importantes bioindicadores.
Agradecimento: Este trabalho não se teria realizado sem a colaboração do Sr. Helder Larguito, pescador da Ria Formosa.

Trabalho realizado por
Carolina Fonseca, Alexandra Pereira, Mariana Monteiro e Catarina Soares, da turma B do 8º ano, no âmbito do desafio “Ostras e Poluição: que ligação?”, do projecto “Oceanos, Biodiversidade e Saúde Humana” da Agência Ciência Viva.
Todos os trabalhos estão disponíveis em http://www.cienciaviva.pt/rede/oceanos/participantes2.asp?desafio=5

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