Ghandi defendeu a ideia que a educação não é uma finalidade, é um instrumento.
Mas como usar esse instrumento? Qual é a missão do professor?
Na actual sociedade, em que os lugares e os veículos da educação se situam cada vez mais na complexa teia das redes tecidas pelos espaços e tempos do trabalho e do lazer, a escola perdeu o seu papel central em termos de agência de transmissão de conhecimentos e de socialização. A constatação desta realidade não pode deixar de ter consequências na forma como a escola se estrutura e se relaciona com outras “agências de socialização”, porventura mais poderosas. No passado, a escola estruturou-se como uma das três instituições centrais da socialização e da promoção da coesão social, juntamente com a igreja e a família, em processos que integravam holisticamente a aquisição do saber, do saber-fazer e de saber-ser, num todo coerente. Neste novo contexto, a escola encontra-se agora numa relação de concorrência com outras “agências de educação”, numa situação de horizontalidade.
No contexto da globalização, os desafios colocados por uma sociedade diversificada, caracterizada por complexas interacções, com problemas sociais múltiplos, associados a conflitos difíceis, relevam a construção de uma política participada cada vez mais apoiada numa cidadania activa e num discurso público, onde são as próprias comunidades a assumir o seu futuro. Não obstante, não podemos deixar de constatar que, pela primeira vez na história do Homem, estamos a educar as nossas crianças e jovens para a vida num mundo cujo conhecimento do futuro é escasso, excepto que será caracterizado por substanciais e rápidas mudanças.
Uma resposta adequada à mudança implica novas formas de estar, suportadas em novas mentalidades e em novos comportamentos, implica uma interactividade sustentável entre o sistema societário e o sistema biofísico. À escola assiste o dever de procurar respostas flexíveis e adaptadas a este mundo em mudança. A era da comunicação e da informação exige que a escola e, em particular os professores recriem um ambiente de aprendizagem, rica em recursos, com novas tecnologias de comunicação, caracterizada pela interactividade, pela capacidade de uso individualizado e que os currículos ofereçam uma visão holística do conhecimento humano, da biosfera, do universo.
A escola deve, por isso, integrar-se numa perspectiva de educação emancipadora, assente em princípios de responsabilidade, de participação, de parcerias, de transversalidade, de solidariedade, de reflexividade, de criatividade, de formação globalizante.
Consideramos assim que é preciso romper com lógicas adaptativas. Os professores devem despertar a criatividade e o espírito crítico dos alunos, devem inquietá-los.
Afinal foi isso que Henslow fez a Darwin. Sendo professor de botânica, Henslow podia ter uma atitude do tipo “encher um recipiente de noções”, passando assim um conjunto de noções e conceitos aos seus alunos. Esta visão dos alunos como meros receptores de conhecimentos conduz inevitavelmente a uma situação de desmotivação e afastamento do sistema de ensino. Henslow optou por “acender um fogo”, desafiou o seu aluno Charles Darwin a entrar em sua casa às sextas-feiras à noite “apenas” para discutir ideias, encorajou-o a ler livros (entre os quais destacamos a clássica descrição, em seis volumes, das viagens à América do Sul de Alexander von Humboldt), realizaram saídas conjuntas.
Hoje, tal como no passado, a missão do professor é possibilitar a criação do conhecimento, mas, para conseguir aprendizagens significativas a relação entre Darwin e Henslow deve continuar a ser vista como uma referência. Devemos compreender que, ao chegarem à sala de aula, os alunos trazem consigo uma cultura que os caracteriza, cultura esta que não é pior nem melhor que a do professor. Assim, tanto aluno como o professor envolvem-se e aprendem no processo de educação.
Ao introduzir as aulas experimentais como prática de ensino generalizada Henslow permitiu a aquisição de aprendizagens significativas, pelo simples facto de potenciar inter-relações entre o mundo das ciências escolares e o das experiências dos alunos, despertando assim a sua curiosidade e interesse. Para que tal seja possível é necessário que as relações sejam afectivas, democráticas e, acima de tudo, os professores compreendam que o sujeito da criação cultural não é individual mas colectivo.
Há quem considere que Darwin obteve o seu beliche a bordo do Beagle simplesmente porque estava no lugar certo na hora certa. Decerto isso sucedeu, mas se Henslow o recomendou a FitzRoy foi porque Darwin era o melhor jovem para a função. A relação de amizade entre os dois e o clima democrático de abertura para trocar ideias terão sido decisivos para incentivar Darwin a procurar o que queria fazer. A lição que podemos daqui extrair: os professores devem estimular e contribuir para o desenvolvimento nos alunos de competências para a acção, confiança nas suas capacidades de agir, reforço para a acção e apropriação nos processos que envolvem intenção de agir.
No sua autobiografia Darwin destaca o seu amor pelas ciências, a perseverança em manter a mente livre de modo a não desistir de qualquer hipótese e a sua diligência na observação e na recolha dos factos. Não conseguimos responder à questão: «Se não tivesse existido Henslow será que Darwin era hoje recordado como um dos mais influentes homens da ciência?». Mas acreditamos que “se não acendermos o tal fogo” muitos alunos certamente não terão a sua oportunidade e dificilmente arranjarão motivação para participar em eventos que dão forma às suas vidas e ao seu lugar.
A sociedade actual exige indivíduos criativos, críticos, geradores de ideias, autónomos. Os professores têm a gratificante e divertida missão de não deixar que os seus alunos se conformem.
Mas como usar esse instrumento? Qual é a missão do professor?
Na actual sociedade, em que os lugares e os veículos da educação se situam cada vez mais na complexa teia das redes tecidas pelos espaços e tempos do trabalho e do lazer, a escola perdeu o seu papel central em termos de agência de transmissão de conhecimentos e de socialização. A constatação desta realidade não pode deixar de ter consequências na forma como a escola se estrutura e se relaciona com outras “agências de socialização”, porventura mais poderosas. No passado, a escola estruturou-se como uma das três instituições centrais da socialização e da promoção da coesão social, juntamente com a igreja e a família, em processos que integravam holisticamente a aquisição do saber, do saber-fazer e de saber-ser, num todo coerente. Neste novo contexto, a escola encontra-se agora numa relação de concorrência com outras “agências de educação”, numa situação de horizontalidade.
No contexto da globalização, os desafios colocados por uma sociedade diversificada, caracterizada por complexas interacções, com problemas sociais múltiplos, associados a conflitos difíceis, relevam a construção de uma política participada cada vez mais apoiada numa cidadania activa e num discurso público, onde são as próprias comunidades a assumir o seu futuro. Não obstante, não podemos deixar de constatar que, pela primeira vez na história do Homem, estamos a educar as nossas crianças e jovens para a vida num mundo cujo conhecimento do futuro é escasso, excepto que será caracterizado por substanciais e rápidas mudanças.
Uma resposta adequada à mudança implica novas formas de estar, suportadas em novas mentalidades e em novos comportamentos, implica uma interactividade sustentável entre o sistema societário e o sistema biofísico. À escola assiste o dever de procurar respostas flexíveis e adaptadas a este mundo em mudança. A era da comunicação e da informação exige que a escola e, em particular os professores recriem um ambiente de aprendizagem, rica em recursos, com novas tecnologias de comunicação, caracterizada pela interactividade, pela capacidade de uso individualizado e que os currículos ofereçam uma visão holística do conhecimento humano, da biosfera, do universo.
A escola deve, por isso, integrar-se numa perspectiva de educação emancipadora, assente em princípios de responsabilidade, de participação, de parcerias, de transversalidade, de solidariedade, de reflexividade, de criatividade, de formação globalizante.
Consideramos assim que é preciso romper com lógicas adaptativas. Os professores devem despertar a criatividade e o espírito crítico dos alunos, devem inquietá-los.
Afinal foi isso que Henslow fez a Darwin. Sendo professor de botânica, Henslow podia ter uma atitude do tipo “encher um recipiente de noções”, passando assim um conjunto de noções e conceitos aos seus alunos. Esta visão dos alunos como meros receptores de conhecimentos conduz inevitavelmente a uma situação de desmotivação e afastamento do sistema de ensino. Henslow optou por “acender um fogo”, desafiou o seu aluno Charles Darwin a entrar em sua casa às sextas-feiras à noite “apenas” para discutir ideias, encorajou-o a ler livros (entre os quais destacamos a clássica descrição, em seis volumes, das viagens à América do Sul de Alexander von Humboldt), realizaram saídas conjuntas.
Hoje, tal como no passado, a missão do professor é possibilitar a criação do conhecimento, mas, para conseguir aprendizagens significativas a relação entre Darwin e Henslow deve continuar a ser vista como uma referência. Devemos compreender que, ao chegarem à sala de aula, os alunos trazem consigo uma cultura que os caracteriza, cultura esta que não é pior nem melhor que a do professor. Assim, tanto aluno como o professor envolvem-se e aprendem no processo de educação.
Ao introduzir as aulas experimentais como prática de ensino generalizada Henslow permitiu a aquisição de aprendizagens significativas, pelo simples facto de potenciar inter-relações entre o mundo das ciências escolares e o das experiências dos alunos, despertando assim a sua curiosidade e interesse. Para que tal seja possível é necessário que as relações sejam afectivas, democráticas e, acima de tudo, os professores compreendam que o sujeito da criação cultural não é individual mas colectivo.
Há quem considere que Darwin obteve o seu beliche a bordo do Beagle simplesmente porque estava no lugar certo na hora certa. Decerto isso sucedeu, mas se Henslow o recomendou a FitzRoy foi porque Darwin era o melhor jovem para a função. A relação de amizade entre os dois e o clima democrático de abertura para trocar ideias terão sido decisivos para incentivar Darwin a procurar o que queria fazer. A lição que podemos daqui extrair: os professores devem estimular e contribuir para o desenvolvimento nos alunos de competências para a acção, confiança nas suas capacidades de agir, reforço para a acção e apropriação nos processos que envolvem intenção de agir.
No sua autobiografia Darwin destaca o seu amor pelas ciências, a perseverança em manter a mente livre de modo a não desistir de qualquer hipótese e a sua diligência na observação e na recolha dos factos. Não conseguimos responder à questão: «Se não tivesse existido Henslow será que Darwin era hoje recordado como um dos mais influentes homens da ciência?». Mas acreditamos que “se não acendermos o tal fogo” muitos alunos certamente não terão a sua oportunidade e dificilmente arranjarão motivação para participar em eventos que dão forma às suas vidas e ao seu lugar.
A sociedade actual exige indivíduos criativos, críticos, geradores de ideias, autónomos. Os professores têm a gratificante e divertida missão de não deixar que os seus alunos se conformem.
Prof. João Gomes
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