Biotecnologia é a aplicação de conceitos científicos e de engenharia, usando agentes biológicos, para obter bens e serviços. A Biotecnologia não é uma disciplina, mas um campo de actividade interligando várias áreas científicas e tecnológicas. Cerca de 5000 a.C. o Homem reparou na actividade de Scharomyces cerevisae produzindo cerveja.
Já nos anos 40 do século XX a Biotecnologia permitiu a produção massiva da Penicilina. Em 1953 Watson e Crick revolucionam as ciências com a descoberta da estrutura do DNA. Em 1965 é decifrado o código genético. Estas descobertas afirmam as capacidades da Biotecnologia e permitiram a sua generalização: agricultura, indústria, gestão de resíduos, medicina.
Os primeiros produtos da biotecnologia clínica foram os Anticorpos Monoclonais (1975), produzidos por um rato como reacção ao antigénio desejado, a insulina recombinante (1982) e recentemente factores de crescimento de hemaceas e palifermina. Por volta de 1990 começou a trabalhar-se em terapia génica – TG, isto é, no tratamento de doenças genéticas através da correcção ou inactivação de genes deficientes por sequências de nucleótidos. A TG abre possibilidades no tratamento, do: cancro, doenças genéticas e da SIDA. Actualmente contempla apenas as células somáticas. As vacinas de DNA que, embora ainda numa fase embrionária, são um caso de TG digno de referência. Surgiram também novas formas de activar a resposta imunitária através de material viral – as VLP, virus-like particles e as CLP, core-like particles.
Há muitas questões em aberto: Para onde caminhamos? Os fins justificam os meios? A TG é um desejo ou uma realidade?
Contudo, a resposta da sociedade a estas técnicas engloba perspectivas individuais e colectivas, sócio-culturalmente divergentes raramente permitindo conclusões ou consensos entre diferentes facções.
Tendo por base esta teia complexa, eis a minha visão de um possível futuro sobre a relação Biotecnologia/Medicina, sendo que todos os processos e técnicas continuam em estudo e continuarão até se provar a sua eficácia e segurança: O aprofundar dos conhecimentos da biologia celular, e da relação célula/organismo, é um factor essencial para o sucesso da terapia génica, tal como o esclarecimento dos efeitos funcionais da proteína que se pretende substituir ou silenciar através da TG.
Adquiridos estes conhecimentos e planeadas as estratégias terapêuticas, permanece ainda por desenvolver um sistema eficaz de transferência génica em que a expressão da proteína terapêutica torne possível transformar um ser doente num saudável. Vacinas acessíveis a todos de administração fácil são já ansiadas e serão, seguramente, uma realidade. A utilização de animais transgénicos como modelos de doenças humanas será uma via a seguir. Para mim a saúde humana está em primeiro lugar. Diz-se que o homem não pode utilizar as outras espécies servindo-se delas em seu próprio benefício, argumentando-se que todos têm os mesmos direitos.
Mas será que não podemos explorar as possibilidades que temos hoje, fruto da evolução, sobretudo quando se colocam questões prioritárias de saúde pública.
Acredito que os meus filhos e os meus netos não verão a TG como objectivo mas como realidade.Toffler, em "A terceira vaga", sugere que as grandes mudanças registadas ao longo da História ocorreram em três ondas civilizacionais: a da agricultura, a da industria, e a da globalização. Acrescento uma quarta vaga: a do triunfo da biotecnologia à escala global.
António Grilo
(texto apresentado no concurso biotecnasescolas.com)
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