Este blog pretende divulgar alguns trabalhos de alunos, projectos e/ou actividades do Colégio Valsassina, realizados no Departamento de Biologia. Estamos a viver uma “sociedade biológica”. A saúde, a gestão dos recursos naturais, a conservação da biodiversidade, a gestão dos resíduos, o controlo de pragas, as análises bioquímicas de águas, solos ou organismos são alguns dos sectores que dependem cada vez mais da Biologia.
sábado, março 09, 2013
Líquenes presentes em Marvila sugerem níveis médio-altos de contaminação do ar.
A avaliação da qualidade do ar é determinante para uma
avaliação dos riscos e fornece dados relevantes para desenvolvimento de medidas
para a proteção da saúde das populações. A presença
de líquenes, a sua quantidade e distribuição fornecem indicações sobre a
importância de impactos ambientais. A sensibilidade dos diferentes líquenes aos
poluentes atmosféricos está bastante dependente do tipo de líquen. Um estudo
realizado na área envolvente ao Colégio Valsassina, situado na freguesia de
Marvila, em Chelas, aponta para a existência de uma comunidade liquénica
nitrófila bastante tolerante à poluição, o que pode ser indicador da existência
de níveis de poluição considerados moderados.
A avaliação da qualidade do ar é
determinante para uma avaliação dos riscos e fornece dados relevantes para
desenvolvimento de medidas para a proteção da saúde das populações.
Um
método de estimativa de contaminantes é a denominada biomonitorização ou por
outras palavras, trata-se da amostra das alterações ambientais no qual se utilizam
parâmetros biológicos. Utilizando organismos vivos pode estudar-se o efeito de
todos os contaminantes atuando em conjunto. A presença de líquenes, a sua
quantidade e distribuição fornecem indicações sobre a importância de impactos
ambientais, tendo em conta que uma boa correlação entre a diversidade destes
organismos e a concentração de contaminantes.
A sensibilidade dos diferentes líquenes aos poluentes
atmosféricos está bastante dependente do tipo de líquen. Por exemplo, os líquenes
fruticulosos e foliáceos possuem uma área de contacto com o ar muito maior,
pelo que são geralmente mais sensíveis e por isso são mais utilizados na
biomonitorização. Pelo contrário, os crustáceos, devido à sua grande adesão ao
substrato, apresentam uma menor área de contacto com o ar e com as eventuais
substâncias químicas que aí surjam, sendo o seu efeito mais difícil de
observar, dado que o organismo demorará mais tempo a reagir à sua presença
Deste
modo, um grupo de alunos do Colégio Valsassina está a desenvolver um estudo
através do qual se pretende avaliar o nível de poluição atmosférica
da cidade de Lisboa utilizando os líquenes como bioindicadores. Os autores do
estudo têm a intenção de dar um contributo para enquadrar os fenómenos de
poluição relativamente à poluição antropogénica e por isso selecionaram, e
pretendem comparar, o grau de poluição do ar em diferentes zonas da cidade de
Lisboa (Avenida EUA, Quinta das Conchas, Expo -Parque do Tejo e Colégio
Valsassina -área envolvente à escola), e também na Venda do Pinheiro, numa zona
com características mais rurais.
Para
concretizar a investigação, em cada local, são efetuadas observações de líquenes
em três árvores selecionadas ao acaso mas com um córtex e perímetro semelhante.
Em cada árvore, recorrendo a um reticulum
são registados: o valor de frequência absoluta de talos liquénicos e a(s)
espécie(s) presente(s). Para a identificação das espécies e consultadoria na
análise dos dados foi determinante a colaboração da investigadora Palmira Carvalho do Museu Nacional de História Natural e da Ciência/Jardim Botânico da
Universidade de Lisboa, especialista na área.
Neste
momento os primeiros resultados começam a ser analisados.
Por exemplo, na área envolvente ao Colégio
Valsassina, situado na freguesia de Marvila, em Chelas, os resultados (tab. I e
II) apontam para uma comunidade nitrófila bastante tolerante à poluição, o que
pode ser indicador da existência de níveis de poluição considerados moderados.
Tab. I. Tabela de frequências médias de talos liquénicos no Colégio
Valsassina, por árvore e ponto cardeal.
|
Norte
|
Sul
|
Este
|
Oeste
|
Frequência
média
|
Árvore 1
|
6,6
|
0
|
0,8
|
3,2
|
2,65
|
Árvore 2
|
13,8
|
5,6
|
9,8
|
6,8
|
9
|
Árvore 3
|
7,2
|
7,6
|
0,6
|
3
|
4,6
|
Frequência média total
|
9,2
|
6,6
|
3,73
|
4,3
|
5,42
|
Tab. II. Identificação do tipo de
talo liquénico e espécies encontradas na área envolvente ao Colégio Valsassina.
Tipo de liquen
|
Crustáceos
|
Foliáceos
|
Fruticulosos
|
n
|
1
|
7
|
0
|
Espécies identificadas
|
Lecanora
sp
|
Xanthoria
parietina
Phaeophyscia
sp.
Hyperphyscia
adglutinata
Physcia adscendens
Physcia dubia
Parmatrema sp.
Physcia
sp.
|
-
|
Avaliação do local tendo em conta as espécies encontradas
|
Comunidade nitrófila bastante tolerante à poluição
|
Corroborando,
de acordo com Nunes (2011) e com a presença de Xanthoria parietina (uma espécie resistente à poluição) indica que o
nível de contaminação do ar é médio a forte. Deste modo, os dados obtidos
sugerem que o local estudado (área envolvente ao Colégio Valsassina) apresenta
níveis médio-altos de dióxido de enxofre[1].
Os
resultados obtidos através de biomonitores (líquenes) não nos dão informação
directa relativamente aos fluxos de deposição atmosférica em valores absolutos.
Por outras palavras, os líquenes não são estações de amostragem. Não obstante,
são uma forma de estudar o efeito de todos os contaminantes
atuando em conjunto, uma vez que um bioindicador é um integrador, o que não
ocorre com as estações automáticas instrumentais de amostra de qualidade do ar.
Por este motivo, os resultados apresentados neste estudo devem ser olhados com atenção.
Agradecimento: O desenvolvimento do estudo não teria sido
possível sem a disponibilidade e colaboração da Investigadora Palmira Carvalho
do Museu Nacional de História Natural e da
Ciência/Jardim Botânico da Universidade de Lisboa.
Catarina Soares, Filipa
Verdasca, Patrícia Nascimento. Colégio Valsassina
[1]
http://www.cienciaviva.pt/veraocv/2010/downloads/Indice_Polui%C3%A7%C3%A3O_Atmos(1).pdf.
Consultado em 25 de fevereiro de 2013.
Etiquetas:
ecoValsassina,
Jovens cientistas e investigadores,
jra
Subscrever:
Mensagens (Atom)