No passado dia 25 de Fevereiro decorreu, no Colégio Valsassina, um debate sobre células estaminais no âmbito do Dia DN. Os cerca de 100 alunos do ensino secundário, do curso de Ciências e Tecnologias tiveram oportunidade aprofundar os seus conhecimentos sobre este tema assim como para conhecer um pouco sobre o trabalho desenvolvido por Claúdia Lobato da Silva. Professora Auxiliar do Departamento de Bioengenharia do IST, esta investigadora realiza as suas actividades de investigação na área de Bioengenharia de Células Estaminais no Instituto de Biotecnologia e Bioengenharia (IBB) no IST. Participa ainda no Programa MIT-Portugal, área de Bioengenharia.uma professora e investigadora.
Esta actividade que se enquadrou no âmbito do projecto Nescolas, foi dinamizada pela equipa constituída pelos estudantes do 10º1A, Gonçalo Marta, Sofia Correia e Catarina Cavaco (com 15 anos) e Max Ferreira (com 16).
A investigação em células estaminais e os seus potenciais usos tem sido alvo de frequentes notícias nos media e de discussão na sociedade. De uma forma geral, há a tendência para considerar o uso das células estaminais como uma espécie de seguro de saúde que pode vir a salvar vidas no futuro. Foi este o ponto de partida para a conversa entre a investigadora e a plateia, que estava cheia de perguntas e dúvidas.
A investigadora mostrou-se muito disponível para responder a todas as questões que lhe foram colocadas o que contribuiu para o dinamismo da sessão e diversidade de assuntos abordados.
Segundo a investigadora, as células estaminais são células indiferenciadas que podem dar origem aos diferentes tipos de células de um organismo. Estas células têm ainda capacidade de se auto-renovar. Isto significa que uma célula estaminal ao dar origem a uma célula mais especializada (diferenciada) dá também origem a uma cópia idêntica de si mesma, e tem também capacidade de se multiplicar aumentando o número de células estaminais. Existem diferentes tipos de células estaminais. Durante o desenvolvimento embrionário, estas células especializam-se, originando os vários tipos de células do corpo, desde as células do músculo cardíaco, células nervosas, glóbulos vermelhos ou células da pele, ou mesmo, por exemplo, as células que fazem parte do olho.
Deste modo, a maior potencialidade das células estaminais é sua aplicação terapêutica, podendo ser úteis no tratamento de doenças cardiovasculares, neuromusculares, ósseas e anomalias sanguíneas.
O facto de frequentemente se encontrar nos media anúncios para a recolha e criopreservação de células estaminais motivou algumas perguntas. Foi assim possível verificar que, em relação às células do sangue do cordão umbilical, estas são utilizadas para o tratamento de doenças do foro hemato-oncológico, ou seja, anemias, leucemias, linfomas ou doenças raras a nível do sangue. A nível do fragmento do cordão umbilical, neste momento, as potencialidades das células mesenquimais ainda se encontram em fase de estudo, razão pela qual apenas conservamos um fragmento do cordão umbilical
Enquanto as células estaminais do sangue umbilical estão a ser cada vez mais utilizadas para o tratamento de doenças do sangue, do sistema imunitário e alguns tipos de cancro, como a leucemia, as células estaminais mesenquimais são “peritas” em reparação e regeneração
Questionada sobre o futuro da investigação, a investigadora referiu que este deve incluir as células estaminais mesenquimais, extraídas do fragmento do cordão umbilical. Estas apresentam uma potencialidade enorme no campo da medicina regenerativa, nomeadamente na regeneração de tecido cardíaco, enxertos, etc.. Há, por isso, uma expectativa muito grande por parte da comunidade científica.
Para além das questões científicas, os alunos presentes aproveitaram a ocasião para conhecer como e onde se faz ciência em Portugal, e quais os cursos universitários que podem ter ligação com esta área de investigação. Foi com agrado que a investigadora partilhou o seu orgulho em fazer parte da comunidade científica portuguesa, a qual está ao nível do que de melhor se faz a nível mundial. Claudia Lobato da Silva referiu que, “já tive a minha experiência no estrangeiro, foi muito enriquecedora”, mas neste momento tenho em Portugal todas as condições para realizar a minha investigação integrada numa equipa que revela grande dinamismo. Há ainda um percurso pela frente, nomeadamente no que diz respeito à promoção da ciência e sua comunicação junto da sociedade civil.
No final da sessão todos os alunos concordaram que estiveram à vontade e que “a simpatia da convidada ajudou imenso”. A convidada destacou que “é de salientar que são apenas alunos do 10º ano e que conseguem estar tão à vontade com o tema”.
Estas conferências inserem-se no concurso “DNEscolas” cujo prémio é uma viagem pela Europa aos grupos vencedores. Mas acima de tudo, são uma excelente oportunidade para estar em contacto com o que de melhor se faz no nosso país.