A Flora e a Vegetação do PNSE apresentam características únicas em Portugal, que se traduzem, por um lado, na existência de cinco espécies, duas subespécies e sete formas e variedades estritamente endémicas da Serra da Estrela (SILVA & TELES, 1986) e por outro, numa zonação altitudinal muito característica, que é fruto da elevada altitude da Serra.Em termos de conservação, no que diz respeito à flora, encontram-se no Parque nove espécies de plantas incluídas no anexo II, cinco espécies incluídas no anexo IV e 23 espécies incluídas no anexo V da Directiva 92/43/CEE (“Directiva Habitats”) (JANSEN, 1997).No que se refere à zonação altitudinal, segundo SILVA & TELES (1986), a vegetação da Serra da Estrela encontra-se diferenciada em três andares, cujos limites podem oscilar, sensivelmente, de acordo com o local considerado: andar basal (até 800-900 metros), andar intermédio (de 800 a 1600 metros) e andar superior (acima dos 1600 metros).O andar basal, de acentuada influência mediterrânica, está sujeito a um aproveitamento cultural intenso por parte das populações, pelo que a vegetação natural é praticamente inexistente. Contudo, subsistem ainda alguns vestígios da vegetação natural: os azinhais e as comunidades de azereiro.Nos vários tipos de aproveitamento agrícola existentes no andar inferior salientam-se a cultura do milho, da vinha e da oliveira. O aproveitamento florestal baseia-se principalmente na plantação de pinheiro-bravo (Pinus pinaster), que atinge, em vários locais, o andar intermédio.O andar intermédio corresponde ao domínio climácico do carvalho-negral (Quercus pyrenaica). Os principais tipos de vegetação natural e seminatural que se encontram neste andar são os carvalhais, os castinçais e matos de vários tipos.Nas zonas onde o coberto arbóreo se apresenta degradado encontram-se os matos. Os principais são os giestais de Cytisus multiflorus (giesteira-brava), em que também ocorre o rosmaninho (Lavandula stoechas ssp. sampaioana), os urgeirais de Erica australis ssp. aragonensis (urgeira), que se associa ao zimbro (Juniperus communis ssp. alpina) e os piornais de Genista florida ssp. polygaliphylla (piorno-dos-tintureiros), associado à giesteira-das-serras (Cytisus striatus).O andar superior corresponde, na actualidade, ao domínio do zimbro (Juniperus communis ssp. alpina). É admitido que, no passado, o pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris), o vidoeiro (Betula pubescens) e o teixo (Taxus baccata) tenham ocupado a parte superior da Serra, após o recuo dos glaciares wurmianos. Em resultado da desflorestação e, possivelmente, por influência de alterações climáticas posteriores, esta área encontra-se totalmente desprovida do coberto arbóreo primitivo. Actualmente, a vegetação da parte superior da Serra é constituída por um mosaico que inclui zimbrais, cervunais, arrelvados, comunidades rupícolas e comunidades lacustres.
Este blog pretende divulgar alguns trabalhos de alunos, projectos e/ou actividades do Colégio Valsassina, realizados no Departamento de Biologia. Estamos a viver uma “sociedade biológica”. A saúde, a gestão dos recursos naturais, a conservação da biodiversidade, a gestão dos resíduos, o controlo de pragas, as análises bioquímicas de águas, solos ou organismos são alguns dos sectores que dependem cada vez mais da Biologia.
sábado, abril 04, 2009
Saída de campo ao Parque Natural da Serra da Estrela (1)
A origem da Serra da Estrela...
Podemos, de uma forma sintética, iniciar a história de formação da Serra da Estrela retrocedendo a um período, que remonta a 650 milhões de anos, no Precâmbrico. Em meio marinho, foram acumulando-se sedimentos terrígenos, resultantes da erosão de continentes então existentes (Fig. 1). Este empilhamento de material sedimentar estendeu-se até ao Câmbrico médio-superior, acerca de 500 milhões de anos, atingindo uma espessura estimada em alguns quilómetros. Esses sedimentos, que apresentam características de bacias sedimentares profundas, foram depositando-se em camadas alternadas de sedimentos argilosos muito finos e sedimentos de composição arenosa fina e argilosa que, por diagénese e metamorfismo, deram origem, respectivamente, às rochas xistentas e aos grauvaques, formando o Complexo Xistograuváquico (Fig. 1) (Ferreira & Vieira, 1999).
No Devónico médio, há 380 milhões de anos, inicia-se uma fase de movimentos compressivos, designada por Fase 1, que inicia a Orogenia Hercínica, durando até ao final deste período, há 360 milhões de anos. Esta força compressiva afectou os sedimentos marinhos depositados anteriormente, provocando dobras de plano axial subvertical, com orientação NO-SE (Fig. 2) (Ferreira & Vieira, 1999).
Durante o Carbónico, há 330 milhões de anos, uma nova fase compressiva, Fase 3, origina novos dobramentos com a mesma orientação da Fase 1, instalando-se, simultaneamente e em profundidade, a grande massa de granitos (Fig. 2). Estes não se instalam num único impulso, mas ao longo de um período relativamente longo, que se inicia aos 320 e se prolonga até aos 290 milhões de anos. O final da Orogenia Hercínica, há 240 milhões de anos, é marcada pela fracturação das rochas formadas, com direcção NNE-SSW a ENE-WSW e NNW-SSE a NW-SE (Ferreira & Vieira, 1999).
Um período de tempo relativamente longo decorre então. Por erosão dos níveis superiores da crosta, esta, por alívio de carga, vai subindo, trazendo de níveis mais profundos até à superfície, as rochas aí formadas. Este período, que decorreu durante o Mesozóico, provocou o arrasamento geral do relevo e deu origem a uma superfície aplanada, que se estendia pela Península Ibérica (Fig. 3) (Galopim de Carvalho et al., 1980).
No início do Terciário, novas forças de compressão, desta vez relacionadas com os movimentos alpinos, vão provocar o rejogo das antigas falhas hercínicas, que passam de falhas de desligamento a falhas inversas.
No Miocénico superior, há 10 milhões de anos, iniciam-se os primeiros movimentos de subida dos blocos que formam a serra, que se continuou por impulsos sucessivos até ao último, que terá ocorrido há cerca de 2 milhões de anos e que marcou a sua estrutura actual (Fig. 4). Este fenómeno deu origem à elevação da montanha, por movimento em sistemas de falhas paralelas, o que originou blocos diferencialmente desnivelados, provocando o efeito de escadaria com que a Serra da Estrela se apresenta (Fig. 4). A actividade tectónica, contudo, não se extinguiu, existindo, ainda hoje, actividade neotectónica, com movimentos ao longo das grandes falhas, como provam a ocorrência de nascentes termais e de sismos, frequentes na região (Ferreira & Vieira, 1999).
No Quaternário, há registo de várias grandes glaciações, a última das quais terá atingido a Serra da Estrela à cerca de 20 000 anos, com o estabelecimento de neves permanentes e de glaciares. Estes glaciares deixaram testemunhos geomorfológicos únicos em Portugal e constituem, sem dúvida, a maior originalidade da paisagem física da Serra da Estrela (Fig. 5) (Ferreira & Vieira, 1999).
A glaciação da Serra da Estrela permitiu a existência de neves perpétuas, a partir dos 1650 metros. Isso significa que, a partir dessa altitude, as neves não fundiam de um ano para o outro, permitindo, assim, a sua compactação, dando origem ao nevado e, por fim, ao gelo. Do ponto de vista da temperatura, o nível das neves perpétuas significa uma altitude, a partir da qual a temperatura atmosférica média mensal é sempre negativa. Comparando essa situação com as temperaturas actuais, é fácil deduzir que as temperaturas eram cerca de 10º C mais baixas que actualmente (Ferreira & Vieira, 1999).
No Devónico médio, há 380 milhões de anos, inicia-se uma fase de movimentos compressivos, designada por Fase 1, que inicia a Orogenia Hercínica, durando até ao final deste período, há 360 milhões de anos. Esta força compressiva afectou os sedimentos marinhos depositados anteriormente, provocando dobras de plano axial subvertical, com orientação NO-SE (Fig. 2) (Ferreira & Vieira, 1999).
Durante o Carbónico, há 330 milhões de anos, uma nova fase compressiva, Fase 3, origina novos dobramentos com a mesma orientação da Fase 1, instalando-se, simultaneamente e em profundidade, a grande massa de granitos (Fig. 2). Estes não se instalam num único impulso, mas ao longo de um período relativamente longo, que se inicia aos 320 e se prolonga até aos 290 milhões de anos. O final da Orogenia Hercínica, há 240 milhões de anos, é marcada pela fracturação das rochas formadas, com direcção NNE-SSW a ENE-WSW e NNW-SSE a NW-SE (Ferreira & Vieira, 1999).
Um período de tempo relativamente longo decorre então. Por erosão dos níveis superiores da crosta, esta, por alívio de carga, vai subindo, trazendo de níveis mais profundos até à superfície, as rochas aí formadas. Este período, que decorreu durante o Mesozóico, provocou o arrasamento geral do relevo e deu origem a uma superfície aplanada, que se estendia pela Península Ibérica (Fig. 3) (Galopim de Carvalho et al., 1980).
No início do Terciário, novas forças de compressão, desta vez relacionadas com os movimentos alpinos, vão provocar o rejogo das antigas falhas hercínicas, que passam de falhas de desligamento a falhas inversas.
No Miocénico superior, há 10 milhões de anos, iniciam-se os primeiros movimentos de subida dos blocos que formam a serra, que se continuou por impulsos sucessivos até ao último, que terá ocorrido há cerca de 2 milhões de anos e que marcou a sua estrutura actual (Fig. 4). Este fenómeno deu origem à elevação da montanha, por movimento em sistemas de falhas paralelas, o que originou blocos diferencialmente desnivelados, provocando o efeito de escadaria com que a Serra da Estrela se apresenta (Fig. 4). A actividade tectónica, contudo, não se extinguiu, existindo, ainda hoje, actividade neotectónica, com movimentos ao longo das grandes falhas, como provam a ocorrência de nascentes termais e de sismos, frequentes na região (Ferreira & Vieira, 1999).
No Quaternário, há registo de várias grandes glaciações, a última das quais terá atingido a Serra da Estrela à cerca de 20 000 anos, com o estabelecimento de neves permanentes e de glaciares. Estes glaciares deixaram testemunhos geomorfológicos únicos em Portugal e constituem, sem dúvida, a maior originalidade da paisagem física da Serra da Estrela (Fig. 5) (Ferreira & Vieira, 1999).
A glaciação da Serra da Estrela permitiu a existência de neves perpétuas, a partir dos 1650 metros. Isso significa que, a partir dessa altitude, as neves não fundiam de um ano para o outro, permitindo, assim, a sua compactação, dando origem ao nevado e, por fim, ao gelo. Do ponto de vista da temperatura, o nível das neves perpétuas significa uma altitude, a partir da qual a temperatura atmosférica média mensal é sempre negativa. Comparando essa situação com as temperaturas actuais, é fácil deduzir que as temperaturas eram cerca de 10º C mais baixas que actualmente (Ferreira & Vieira, 1999).
A cúpula de gelo de planalto ocupava uma superfície de 70 km2 e uma espessura que não deveria ultrapassar os 80 metros. Pelo contrário, a espessura dos gelos, nos vales, poderia ser consideravelmente maior: por exemplo, as moreias da lagoa seca (Fig. 6) permitem afirmar que a língua glaciária do Zêzere atingia 300 metros de espessura (Ferreira & Vieira, 1999).
Na Serra da Estrela, de uma forma geral, podemos distinguir 5 vales glaciários: o Vale Glaciar do Zêzere, o do Covão do Urso, o do Covão Grande, o da Loriga e o da Alforfa (Fig. 6).
O Vale Glaciar do Zêzere, alimentado pelos amplos circos do Covão da Ametade, da Candeeira e dos Covões (Fig. 6), originou a mais extensa língua glaciária da Serra da Estrela, a qual terá atingido 13 km de comprimento e a altitude mínima de 680 metros (Daveau, 1971).
No que diz respeito à geologia, a Serra da Estrela é dominada pela ocorrência de rochas graníticas hercínicas, com composição variada, desde os granodioritos aos leucogranitos, de idade compreendida entre os 340 e os 280 milhões de anos (Fig. 7). Estas intruem metassedimentos de idade Precâmbrica – Câmbrica, entre os 500 – 650 milhões de anos, relativos ao Complexo Xistograuváquico (Brigas, 1992), que representam, assim, os depósitos sedimentares mais antigos desta região (Fig. 7) (Galopim de Carvalho et al., 1990).
Além destes dois tipos de formações principais (Complexo Xistograuváquico e granitos), destacam-se, ainda, formações cenozóicas: aluviões, depósitos de vertente, terraços fluviais, depósitos fluvio-glaciários e glaciários (Fig. 7) (Ferreira & Vieira, 1999).
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