quarta-feira, janeiro 23, 2008

O Darwinismo e a "Mão Invisível"

Acredita-se que nenhuma espécie que tenha existido desde o início da Terra até aos dias de hoje tenha tido tanta influência a nível global como o ser humano. Todas as extinções e os crescimentos de populações em massa têm tido razões naturais, pelo menos até agora.
A Natureza, ou seja, o enorme e complexo conjunto de seres existentes na Terra, criam condições novas ou apenas mantêm-se, as quais justificam a inconstância do conceito de mais apto, sugerido pela teoria de Charles Darwin. Todas as evoluções, desde que os primeiros seres vivos apareceram, dependeram e dependem das circunstâncias a que estes estão sujeitos, ou passam a estar sujeitos.
Para Darwin, ao contrário do que Lamarck afirmava, não só as mudanças de ambiente provocam esse mecanismo de evolução, mas o próprio ambiente em si, e as condições que este impõe ao longo do tempo a todos os seres que habitam este planeta. Mas também afirma que só é possível haver evolução se já houver uma predisposição para que esta ocorra. Estou a falar da variabilidade inter e intra-específica. É preciso ver que o Darwinismo também tem em conta o tempo, factor que aliado à variabilidade intra-específica e à reprodução, gera esse mecanismo chamado evolução.
De uma maneira muito resumida, a evolução é a forma como uma ou mais espécies progridem ao longo do tempo, que pode ser avaliada pelo tamanho relativo das suas populações. Todo o habitat tem as suas características, que ditam qual o ser vivo que mais se adequa aquele lugar, isto é, o mais apto; aquele que tem mais condições naturais para sobreviver, alimentar-se e reproduzir-se. Isto é nada mais, nada menos, do que a Selecção Natural.
Mas o problema com que nos defrontamos é que esta evolução era mesmo natural, até que o Homem, com as suas ambições de poder e domínio de terras e bens, tornou esta evolução de certa forma artificial, gerada pelo próprio Homem. Isto seria vantajoso, se não fosse por esta evolução ter tomado proporções desmedidas tal que o Homem já não as consegue controlar.
Temos como exemplo a proporção do crescimento populacional de 100 milhões de anos, após a era glaciar, e a dos últimos 10 milhões de anos. Tanto para um como para o outro, o aumento foi de mil vezes a população original. Mais impressionante é o que os números nos mostram acerca dos últimos 200 anos. Em 1830 a população humana terrestre atingiu os primeiros mil milhões, e hoje regista o incrível valor de 6 milhões de habitantes!
A este passo, é difícil prever como é que iremos sustentar as nossas necessidades. As necessidades deste número sem fim previsto, que cada vez consome mais e mais. Os seres vivos sempre foram dependentes da quantidade de recursos naturais disponíveis. Sempre assim funcionou, até que o Homem conseguiu usá-los de uma maneira muito mais eficiente que qualquer espécie, e estes recursos em massa implicaram um crescimento em massa da população humana. O crescimento continuou, e ainda continua, a um ritmo indescritível, mas os recursos têm os seus dias contados.
Tudo isto terá grande parte no futuro do nosso planeta e da sua biodiversidade. Quando falamos do impacto do Homem, não só falamos da exploração excessiva de recursos, como também tratamos de assuntos como poluição, destruição de habitats e todos as outras coisas que isto implica, tal como o aumento do efeito de estufa e o aquecimento global. Se não houver uma mudança drástica na mentalidade das pessoas, não só fazê-las saber, mas também actuar, o futuro do nosso planeta, e consequentemente o nosso futuro e o de todas as outras espécies que conhecemos hoje, terá um final trágico.
Em 1776, Adam Smith introduz o termo “Mão Invisível”, em “A riqueza das nações”, para explicar o que é que coordenava as relações entre indivíduos numa economia de mercado sem uma entidade identificável que fosse coordenadora destas relações. Em 2002, num texto de opinião no Jornal de Letras, João Caraça adapta este termo para a dimensão biológica, dizendo que “é tempo de darmos uma ajuda à mão invisível biológica que faz pulsar a nossa espécie, reconhecendo-nos mutuamente, interpretando o passado histórico e preparando o futuro, colectivo e planetário”. Compara ainda, que caso contrário, teremos de olhar para o espaço tal como os seres humanos de há 110 mil milhões de anos atrás tiveram de olhar para as montanhas, a única escapatória para a subida do mar.
“A alteração climática que experimentamos indica que uma bifurcação se aproxima. Sabemos que, na evolução das espécies, não há repetições, nem se pode voltar atrás. Precisamos de engendrar novas soluções” Acaba assim o texto de João Caraça. À medida que o tempo passa, estamos cada vez mais perto de uma nova mudança na evolução da nossa espécie, e se queremos continuar tal como nos conhecemos, é necessário voltarmos 50 anos atrás no tempo e regredir na nossa evolução, para não continuarmos a forçar o limite do planeta e cairmos no erro de voltarmos, não 50, mas milhares de milhões de anos atrás. Se realmente temos poder sobre a Selecção Natural, se realmente podemos controlar a Mão Invisível, então somos capazes de controlar o nosso destino e principalmente o destino do planeta onde habitamos.
Felipe Lins Blauth, 11º 1A

terça-feira, janeiro 22, 2008

Gritos de alarme...

Os gritos de alarme lançados hoje por ecologistas e não só não serão apenas mais uma estrofe na litania que é a existência da Terra, tão cheia de cassandras e de profetas da desgraça? Estarão estas preocupações fundamentadas em factos devidamente estabelecidos?
Aos que defendem a urgência de uma efectiva preservação da biodiversidade no nosso planeta poder-se-á objectar que a História da Terra está repleta de extinções. A vida está constantemente em mudança. Algumas espécies desaparecem; outras, melhor adaptadas, desenvolvem-se. Porque havemos hoje de recusar a ideia de que as espécies desaparecem? Não será essa uma das leis da natureza?
É certo que o número de espécies tem mudado ao longo do tempo. A Evolução, obrando durante milhares de milhões de anos, faz com surjam constantemente novas espécies enquanto outras desaparecem.
As extinções, ocorridas em períodos geológicos de cataclismos (colisões de meteoritos, vulcanismo à escala planetária), bem como devido a perturbações de várias ordens como as alterações climáticas, são posteriormente “compensadas” com a chegada de novas espécies, mais aptas, alimentando-se deste modo o processo evolutivo.
Desde há aproximadamente dez mil anos, com o surgimento da agricultura e do pastoreio, que o Homem causou inúmeras extinções. A partir da Revolução Industrial o ritmo de perda de biodiversidade sofreu um enorme e cada vez maior crescimento.
Pode estabelecer-se uma relação entre a situação actual e a enorme catástrofe biológica ocorrida há sessenta e cinco milhões de anos. Por essa altura, um meteorito de grandes dimensões entrou em rota de colisão com a Terra e em bateu na região do México. Os efeitos foram aterradores. O impacto provocou a libertação de uma quantidade de energia correspondente a centenas de milhões de bombas atómicas. Pensa-se que esta colisão terá levado à extinção dos grandes répteis, como os dinossauros, assim como mais de 50 % das espécies da Terra. O impacto foi muito breve: poucos segundos para a colisão, inúmeros decénios para as consequências biológicas e climáticas.
Em Geologia chama-se “Era Secundária” ao período de tempo que precede estes fenómenos e “Era Terciária” ao que se lhes seguiu, distinção cronológica que tem origem precisamente na grande diferença entre os fósseis anteriores e posteriores àquela data. Os mamíferos, cuja origem remontava já há mais de uma centena de anos, tiveram a partir daí um desenvolvimento extraordinário, que levou então à aparição dos primeiros primatas, dos hominídeos e posteriormente do Homo Sapiens.
Posto que vivemos actualmente grandes convulsões cujas consequências podem ser comparadas às que provocaram este virar de página na História da Terra, a crise contemporânea é muitas vezes denominada “sexta extinção” devido ao facto de vivermos num período de galopante e muito preocupante taxa de desaparecimento de espécies. A acção do homem é apontada como a grande causa para este desastre. As alterações climáticas são um dos mais graves problemas com que o planeta já se debateu e já foram apelidadas como o maior desafio do século XXI. Nunca a concentração de gases com efeito de estufa foi tão grande e com a mudança climática descontrolada podem surgir verdadeiras catástrofes de várias ordens porque os ecossistemas e as espécies não são capazes de aguentar uma mudança climática rápida
Calcula-se que actualmente a taxa anual de extinções seja, 1000 vezes maior que a anterior à era industrial e que mais de 30 % das espécies possão ter desaparecido em 2050, sem nenhuma garantia de que o fenómeno pare aí.
Assim, a selecção natural ou persistência do mais apto, defendida por Darwin em A Origem das Espécies, representa o processo pelo qual se dá a “conservação das diferenças e das variações individuais favoráveis e à eliminação das variações nocivas”. No entanto, segundo alguns defensores do neodarwinismo, Darwin cometeu um erro ao afirmar que “estas transformações [são] lentas e progressivas”. Pelo contrário, e uma vez que a Evolução se processa por meio da extinção dos indivíduos com características menos favoráveis, então o ritmo de evolução é fruto do acaso e não gradual, dependendo apenas das adaptações dos seres vivos relativamente ao meio em que habitam. Deste modo, as alterações climáticas poderão ser consideradas, actualmente, o principal agente no mecanismo da Evolução.

Joana Magalhães da Silva, 11º 1A

Bibliografia:
REEVES, Hubert; LENOIR, Frédéric . A Agonia da Terra . Gradiva Publicações . 2006

A mão invisível: o papel das alterações climáticas no processo de selecção natural

A evolução por selecção natural, conceito fundamental proposto por Darwin, é uma teoria sobre as origens da adaptação, complexidade e diversidade dos seres vivos que habitam a Terra.
No essencial, o conceito defende que pequenas diferenças, aleatórias e hereditárias, entre vários indivíduos resultam em possibilidades diferentes de sobrevivência e reprodução: sucesso para alguns, morte sem descendência para outros. O mecanismo é simples: os indivíduos que, num determinado espaço e tempo, possuem caracteres mais favoráveis, têm maior probabilidade de sobreviver e de os transmitir à geração seguinte. Esta eliminação selectiva natural conduz a mudanças significativas na forma, dimensão, defesa, cor, bioquímica e comportamento dos respectivos descendentes.
Parafraseando Darwin, “pode dizer-se, metaforicamente, que a selecção natural procura, a cada instante e em todo o mundo, as variações mais ligeiras; repele as que são nocivas, conserva e acumula as que são úteis; trabalha em silêncio, insensivelmente, por toda a parte e sempre, desde que a ocasião se apresente para melhorar todos os seres organizados relativamente às suas condições de existência orgânicas e inorgânicas. Estas transformações lentas e progressivas escapam-nos até que, no decorrer das idades, a mão do tempo as tenha marcado com o seu sinete e então damos tão pouca conta dos períodos geológicos decorridos, que nos contentamos em dizer que as formas viventes são hoje diferentes das que foram outrora.”
As rápidas alterações climáticas registadas nas últimas décadas estão, no entanto, a perturbar este processo. Se é um facto incontestável que variações bruscas no clima são uma constante na história do planeta, é também verdade que essas modificações se processam hoje a um ritmo constante, repetido, e não cíclico, causando, por isso, perturbações nos ecossistemas, e agravando o estado de espécies atingidas por outros factores negativos, como a perda de habitat, a poluição ou a introdução de espécies invasoras.
Tal é o caso dos recifes de coral que, estando já afectados pelas contínuas pressões causadas pela poluição e destruição por embarcações, atingem agora o limiar de tolerância em termos do aumento da temperatura da água. O contínuo aquecimento das águas pode traduzir-se na extinção dos recifes, caso não sejam encontradas colónias resistentes à subida de temperatura.
Um estudo publicado pela revista Nature (2004) sobre os possíveis impactos de um cenário de alterações climáticas moderadas em 1.103 espécies de mamíferos, aves, anfíbios, répteis, borboletas e outros invertebrados, em seis zonas ricas em termos de biodiversidade, mostrou que 15 a 37% dessas espécies poder-se-ão extinguir até 2050. Segundo Lee Hannah, um dos co-autores, o “estudo mostra que as alterações climáticas são a maior ameaça à biodiversidade”, isto porque aceleram o processo de selecção natural, determinado por modificações ambientais antropogénicas, tornando-o quase ininterrupto. As alterações no meio tornam-se tão bruscas e extremas, que dificilmente são encontrados indivíduos mais aptos ao novo clima, traduzindo-se no desaparecimento de espécies, com consequente perda de biodiversidade.
De acordo com o UICN (Congresso da União Internacional para a Conservação da Natureza), realizado na Tailândia, pelo menos 27 espécies foram extintas nos últimos 20 anos, evolução que, de outro modo, demoraria muito mais tempo.
O clima – ou a sua ruptura, tal como o conhecíamos – transformou-se no tema “quente” do momento, e a necessidade de acção para prevenir um desastre irreparável parece imergir finalmente como prioridade mundial. Cada vez mais as alterações climáticas são um factor invisível, uma mão que se interpõe no “pulsar” biológico.
Citando Jeffrey McNeely, “cada vez que perdemos uma espécie, estamos a cortar uma cadeia de vida que evoluiu há 3,5 mil milhões de anos”.
Ana Filipa Louro, 11º 1A


Bibliografia:
Darwin, C. A Origem das Espécies; Lello e irmão editores, Porto. 505pp.
Gallavotti, B. (2002); Segredos da vida; Asa editores, Portugal, 95pp.
Dias da Silva, A; Gramaxo, F; Santos, M.E; Mesquita, A.F; Baldaia, L; Félix, J.M. (2007); Terra, Universo de Vida, 1ªparte; Porto Editora, Portugal. 192pp.
www.ambienteonline.pt (20.12.07)
www.quercus.pt (22.12.07)
www.ecosfera.publico.pt (20.12.07)